Depois de muito esperar pelas melhores condições do mar, finalmente conseguimos fazer uma viagem exclusiva para a nossa equipa de biólogos estagiários. Viagens como esta permitem-nos ter mais tempo para coletar mais dados do que nos nossos passeios regulares de observação de baleias e golfinhos. Esta também é uma grande oportunidade para aprender e melhorar as nossas técnicas de amostragem. Em particular, hoje focámos a viagem na recolha de dados acústicos usando hidrofones.
Começámos a nossa viagem a partir de Ponta Delgada como de costume, obtendo informações importantes dos nossos vigias. Rapidamente conseguimos encontrar um grupo de cerca de 30 golfinhos comuns a nadar perto da costa, então pudemos começar a usar os hidrofones para os tentar ouvir.
Os hidrofones são microfones especiais que funcionam debaixo de água, que nos permitem ouvir os sons emitidos pelas baleias e golfinhos, quer para comunicarem entre si, quer para caçar e orientar-se. Aqui, na Futurismo, utilizamos dois tipos de hidrofones, um deles possui uma cuba externa acoplada, que nos permite utilizá-lo de forma direcional. Essa adaptação ajuda-nos a detetar de onde o som está a ser emitido enquanto o viramos continuamente de baixo da água. Desta forma, conseguimos ir ao encontro do animal de acordo com a direção correta. O outro hidrofone é conectado a um gravador e altifalantes para gravar os sons à volta para fins científicos e educacionais.
Após os primeiros testes com os golfinhos, continuámos na esperança de encontrar cachalotes, que eram o nosso principal objetivo. Estes dados irão mais tarde ser utilizados para estimar o tamanho dos cachalotes gravados.
Continuámos a viagem para o leste da ilha à procura deles. Tivemos a sorte de encontrar dois cachalotes já conhecidos: Orca, que tem uma grande mancha branca nas costas, e Dilys. Estas duas fêmeas de cachalote já foram identificadas pela Futurismo, uma pertence ao grupo vermelho e a outra ao grupo verde.
Na Futurismo conseguimos reconhecer numerosos cachalotes, que agrupamos em grupos de acordo com os avistamentos que fizemos, com o intuito de compreender as estruturas sociais destes animais que frequentam as águas da costa sul de São Miguel.
Cada grupo recebe uma cor para facilitar a compreensão de quem tende a sair com quem, isto é, conhecer os indivíduos que normalmente estão juntos. Surpreendentemente, encontrámos estes dois indivíduos que normalmente não são avistados juntos. Mas a partir de agora, vamos ficar de olho neles e verificar se haverá mais sobreposições na partilha do habitat. Durante os avistamentos, aproveitamos também o momento em que eles ficam à superfície para tirar fotos para a nossa foto-identificação. E quando eles mergulham usamos o hidrofone para gravar os sons.
Ao registar os sons dos cachalotes, percebemos que muitos indivíduos estavam a alimentar-se ao mesmo tempo. O espectrograma mostra o som cheio de “cliques” de frequência de banda larga, embora o mais intenso pertencia claramente ao indivíduo mais próximo, que começamos a registar logo no início do mergulho.
Estes cliques, que variam de 5 a 25 KHz, são produzidos através da cabeça da baleia pelos lábios fónicos e depois são amplificados e direcionados no órgão do espermacete. O som que viaja em direção à presa, ricocheteia e regressa ao emissor fornecendo informações sobre a distância e as características da presa.
O espectrograma exibe o som de ecolocalização. A cor mais intensa pertence ao indivíduo-alvo. No entanto, os “cliques” de alimentação tornam-se mais frequentes à medida que o “caçador” se aproxima da sua possível presa. Antes de o apanhar, o som muda para zumbidos rápidos, tipo rangidos, mas isso não foi registado neste exemplo. Mais cliques resultam em mais ecos, que fornecem informações mais amplas sobre a presa à medida que ela se torna interessante para ser comida. Finalmente, um breve silêncio após os zumbidos não registados pode marcar a captura da presa. Esta recolha específica permite-nos imaginar como eles conseguem distinguir os “cliques” dos seus colegas do seu próprio som!
Nesta viagem, para além da fotografia e do trabalho acústico, tivemos também a oportunidade de observar outras espécies marinhas.
Além das várias espécies comuns de aves marinhas, como o cagarro ou a gaivota de patas amarelas, também conseguimos chegar perto de uma tartaruga comum, de Sargassum, uma alga marinha, e de um grande número de caravelas portuguesas arrastadas pelo vento e pelas correntes marítimas que se espalharam por vastas extensões.
A cereja em cima do bolo, foi encontrar um caracol marinho violeta, também chamado de caracol violeta comum (Janthina janthina), flutuando de cabeça para baixo à superfície da água, graças a uma bolha feita pelo próprio. Este avistamento foi especial porque tornou-se na primeira documentação desta espécie que ataca as caravelas portuguesas e as velelas também conhecidas como veleiros violeta. Não é engraçado que o caracol marinho violeta esteja a comer as veleiros violeta? Assim, com a abundância de caravelas portuguesas, havia comida de sobra.
Agora, estamos ansiosos para descobrir ainda mais sobre a vida marinha e desfrutá-la consigo. Junte-se a nós para aprender algo novo sobre as baleias e golfinhos e outros animais selvagens que andam junto à nossa ilha!
O equipamento acústico foi doado pela Idea Wild.
Escrito por Mireia Espuñes Capdevila, Jorge Pan Martinez e Melissa Guinnot Sánchez.