As baleias e os golfinhos não entendem limites nem fronteiras. Alguns destes animais que avistamos aqui nos Açores viajaram milhares de quilómetros de outras partes do Oceano. Algumas baleias são conhecidas por realizarem algumas das mais extraordinárias migrações da Terra, e nós temos a sorte de as avistarmos aqui, nalgum ponto das suas rotas. Porém, apesar de serem os animais mais carismáticos e emblemáticos dos oceanos, as suas migrações ainda não são bem conhecidas.
Há mais de 10 anos que na Futurismo recolhemos dados científicos durante as nossas viagens de observação de baleias. Como podem imaginar, nesta década, tiramos milhares de fotos de milhares de cetáceos diferentes, e apenas uma pequena parte de todos estes foram já identificados pela nossa equipa de biólogos e / ou por outros cientistas.
Uma das espécies com as quais trabalhamos ativamente é a baleia-de-bossa. Nas nossas águas, as baleias-de-bossa são avistadas todos os anos, mas com menos frequência que outras baleias. Em 2020, já tivemos grandes surpresas com estes gigantes, que apareceram logo no início do ano. Até agora, com as fotos que fomos tirando ao longo dos anos nas viagens de observação de cetáceos na Ilha de São Miguel e na Ilha do Pico, a Futurismo já conseguiu identificar cento e três baleias-de-bossa. Para ficarmos a conhecer melhor estes animais, juntámos as nossas forças à rede atlântica de cientistas de baleias-de-bossa, com os quais temos partilhado as nossas fotos e dados de cada vez que avistamos uma destas baleias. Com esta rede, conseguimos identificar baleias que já estiveram noutros lugares do oceano Atlântico, desde locais tão distantes como a Noruega, Islândia, Cabo Verde, Caraíbas, e Canárias ou, claro, noutros pontos do mar dos Açores. Não é uma tarefa fácil, uma vez que fotos do mesmo animal podem ser tiradas com anos de intervalo, o que significa que provavelmente apareceram novas cicatrizes ou marcas no seu corpo, dificultando a sua identificação. No entanto, o olhar experiente dos investigadores das baleias-de-bossa consegue fazer incríveis correspondências com as fotos compartilhadas. Para se ter uma ideia, o Catálogo de Baleias-de-Bossa do Atlântico Norte conta hoje com cerca de 11 mil caudas individuais fotografadas em todo o Atlântico Norte.
E agora perguntam … de onde vêm as baleias-de-bossa avistadas nos Açores? Ou vão? Pois bem…, pelo que sabemos, algumas estão a viajar de / para Cabo Verde, conhecido por ser uma zona de reprodução para esta espécie (Wenzel et al., 2020). Outras podem estar a viajar da Noruega para as Caraíbas, como mostram os dados de satélite registados pelos investigadores da Universidade Ártica da Noruega (https://whaletracking2018.uit.no/). Ou ainda, algumas excepcionais, poderão estar a caminho da Terra Nova, onde, até agora, apenas foi encontrada uma correspondência com os Açores (https://www.coa.edu/allied-whale/).
Sabemos que as baleias-de-bossa podem passar pela nossa porta. Desejamos-lhes boa sorte com as suas viagens e esperemos vê-las (e fotografá-las) em breve!
Escrito por Laura González