Workshops
Na Futurismo é muito importante ser inovativo e estar sempre atualizado em relação aos estudos feitos em todo o mundo sobre animais marinhos, principalmente os que estão presentes nos Açores e que vemos durante as nossas saídas. Por essa razão, quatro biólogos da Futurismo: Laura Gonzalez, Fadia Al Abbar, Rafael Martins, e Victor Ojeda Martin, compareceram à conferencia e todos eles estiveram também presentes em diferentes workshops.
Workshop: Cachalote consortium
No workshop “CACHALOTE Consortium”, cerca de 30 estudantes e investigadores vindos de diferentes partes do mundo partilharam o seu conhecimento, experiencia mas também duvidas sobre variados tópicos sobre cachalotes. Durante esta formação, onde estiveram presentes dois biólogos da Futurismo, foram apresentadas as mais recentes investigações sobre cachalotes em todo o mundo. Na apresentação feita por Shane Gero, fundador do Dominicana Sperm Whale Project e também um dos principais investigadores de cultura de cachalotes, este falou sobre a plataforma “Flukebook”, que tem como objetivo aumentar a colaboração entre várias partes do mundo na foto-identificação de barbatanas caudais de cachalotes, de forma a que possamos entender melhor a sua distribuição e sociedades. As fotos podem ser comparadas com uma base de dados ajudando a entender onde é que estes cachalotes vão (através de marcação e recaptura) de forma não invasiva e apenas com uma foto da sua barbatana caudal!
Depois, uma das nossas colaboradoras, Lisa Steiner, que vive no Faial (Açores), deu uma palestra muito interessante onde falou do seu estudo de 30 anos sobre cachalotes. Ela usou foto-ID para entender os indivíduos encontrados ao largo da costa do arquipélago dos Açores. Indivíduos que esta já tinha identificado foram encontrados no Norte da Europa e infelizmente um individuo que morreu devido ao embate com um navio foi também reconhecido por Lisa.
Outra forma de entender os cachalotes é através de acústica, já que eles passam a maior parte do tempo em mergulhos de grande profundidade. Várias apresentações foram sobre acústica. Um exemplo interessante é que os cachalotes usam “codas” para socializar, e estas são diferentes para cada população. Seria uma grande oportunidade criar uma base de dados mundial de codas, tal como foi sugerido pelo Shane Gero, de forma a saber mais sobre a vida social dos cachalotes de todo o mundo.
Outro tópico também falado foi genética de cachalotes. Biagio Violi, que trabalhou anteriormente com a Futurismo no Pico e em São Miguel, apresentou os seus resultados neste worksop. Biagio é um cientista que terminou o seu PhD em Ciências do Mar e liderou um projeto sobre genética de populações de cachalotes no Mar Mediterrâneo e no Nordeste do Atlântico. Ele colaborou com cientistas de todo o Mediterrâneo mas também dos Açores, Canárias, Madeira e noroeste de Espanha. Os seus principais resultados mostram que a população do Mediterrâneo, que fora inicialmente descrita como apenas uma única população e isolada da população do Atlântico, tem afinal duas populações distintas: a Mediterrânea e uma segunda que aparenta ser um hibrido entre o Atlântico e Mediterrâneo. Este resultado foi bastante importante em termos de conservação já que significa que estas duas populações podem ser consideradas como duas populações separadas. Outras analises vão descrever a dinâmica dentro do Mar Mediterrâneo, o que é bastante importante para desenvolver estratégias de conservação já que no Mediterrâneo estas populações estão vulneráveis a ameaças como colisão de barcos, ingestão de restos de plástico e emaranhamento em redes de pesca.
As ameaças que estes animais enfrentam foram também faladas durante a formação. Alterações climáticas, rotas dos barcos ou interação com humanos (pescas) estiveram entre os vários tópicos mencionados. Uma das apresentações foi sobre identificação de relações entre rotas de navegação activas e a presença de cachalotes utilizando acústica. Descobriu-se que os cachalotes parecem evitar as rotas marítimas, no entanto não se sabe com certeza se tem a ver com preferência de habitat. Jonathan Gordon deu uma palestra incrível sobre cachalotes roubarem os peixes dos pescadores de palangre. Embora os pescadores sejam prejudicados por isso, os cachalotes parecem estar também vulneráveis a emaranhamentos nas linhas de pesca.
Na foto é possível ver a ultima ronda de palestrantes, incluindo Biagio Violi e Lisa Steiner, os nossos colaboradores.
Workshop: Keep on Gramping 2.0
Na segunda formação, outro biólogo da Futurismo e outros 24 cientistas de todo o mundo (Portugal, Itália, França, Espanha, Escócia, País de Gales, Taiwan, EUA, Maldivas, Inglaterra e Holanda) encontraram-se para discutir e partilhar informação sobre golfinhos de Risso. Vários temas foram debatidos, entre os quais: estrutura social, comportamento, processos de foto-ID, distribuição temporal, re-avistamentos e recapturas.
Foi também discutido o uso de drones para entender melhor comportamentos difíceis de perceber da superfície. A distancia máxima e a melhor forma de aproximação ao animal é crucial para evitar provocar stress ou distúrbio ao mesmo. Na Escócia, graças à investigação feita com Rissos, foi encontrada uma zona onde estes animais passam a maior parte do seu tempo com as crias, onde foi estabelecida uma AMP (Área Marinha Protegida) para proteger estes indivíduos, que foi este ano aceite pelo governo Escocês. As regras de observação de golfinhos e a possibilidade de proibição de fazer natação com esta espécie no Pico, foi também um assunto debatido. Nesta formação, Rosalia Maglietta apresentou o primeiro programa de identificação automática, chamado SPIR, que esta mesmo desenvolveu.
Workshop: E-DNA
O nosso quarto biólogo que esteve presente na conferencia foi à formação sobre ADN ambiental de mamíferos marinhos. Foi uma experiencia incrível para ele. Durante a formação houve conversas super interessantes sobre a coleta de agua do mar e extração de ADN ambiental (eDNA) da amostra para detetar e identificar o ADN dos cetáceos. Victor, o nosso biólogo que esteve presente na formação, encontrou um colega, Owe Wangesteen, que está a fazer o Pós Doutoramento sobre o mesmo tema que a tese de mestrado do Victor: genética evolutiva. Eles falaram sobre a possibilidade de coletar agua do mar para posterior extração do ADN dos animais, e saber mais sobre a sua distribuição em São Miguel.
No fim da formação aqueles que estiveram presentes foram divididos em grupos para que pudessem discutir vários temas como o eDNA no mar, eDNA no laboratório, criação de estudos sobre eDNA, etc… Durante estas conversas, o nosso biólogo, conheceu vários investigadores que estão a trabalhar ou a tentar trabalhar com eDNA extraído da agua do mar, do espiráculo das baleias ou até mesmo das fezes; esta ultima é exatamente o que está a ser feito aqui na Futurismo. Camilo Saavedra, o presidente da “Sociedad Española de Cetaceos” falou com o Vitor e falaram sobre importância que as empresas de observação de cetáceos têm como fonte oportunista, contribuindo para o conhecimento dos mamíferos marinhos e conservação do ecossistema marinho.
Palestras
Durante a conferencia, estivemos também presentes em várias palestras, e algumas delas foram particularmente interessantes tendo em conta a situação dos Açores e a investigação feita em São Miguel.
Palestras: A Marinha
Palestrantes que tinham sido financiados pela marinha, falaram de assuntos interessantes, tal como muitos de vocês sabem, a marinha está muito ativa no mar e as atividades que estes fazem juntamente com os sonares que estes emitem no mar podem ter efeitos negativos nos animais marinhos. No entanto, nem todos os sonares têm o mesmo som e intensidade, e nem todas as atividades navais praticadas têm os mesmo impactos no ambiente. Algumas das palestras mostraram quais as atividades que têm mais impacto nos cachalotes e baleias de bico, por exemplo. Isto foi bastante interessante, já que tivemos alguns emaranhamentos de baleias de bico nos últimos dois anos, com a presença de navios da marinha. Aprendemos bastante sobre que tipo de ameaça a marinha apresenta para estes animais, e esperamos que este conhecimento nos ajude a perceber a causa de morte de futuros animais que deem à costa de São Miguel.
Palestras: Novas técnicas
Uma sessão de palestras foi dedicada a novas técnicas. Isto porque é bastante importante entender novos métodos para estudar mamíferos marinhos para que possamos perceber formas mais eficientes de percebe-los mais rapidamente. Drones, e drones subaquáticos são novas técnicas que estão a chegar e que mostram ser menos invasivas de filmar os animais. É possível ver o seu comportamento de uma perspetiva diferente. E também verificámos que algumas técnicas eram diretamente aplicáveis à investigação feita aqui na Futurismo. Por exemplo, houve palestras sobre programas automáticos de foto-ID que nós usamos para identificar indivíduos. Na Futurismo, continuamos a fazer todo o processos de foto-ID (comparação e processamento) de forma manual; um exemplo disso é o nosso poster de golfinhos comuns que foi apresentado na conferencia, e que deu imenso trabalho. Conseguimos fazer de forma automática alguma parte do trabalho como por exemplo extrair as barbatanas dorsais dos golfinhos através do programa online Photo ID Ninja, que curiosamente também foi apresentados nesta conferencia. Este programa corta as fotos de forma automática o que nos poupou bastante tempo. No entanto, a parte de comparar fotos foi feita manualmente. No futuro esperamos usar mais técnicas inovativas que foram apresentadas nesta conferencia!