Durante as nossas saídas para observação de cetáceos, os nossos convidados a bordo perguntam várias vezes “Porque é que não usam sonares para procurar as baleias e golfinhos?”. Neste artigo tentamos explicar qual o impacto que esta técnica tem nos animais.
Então, o que é um sonar?
Um sonar ativo é um mecanismo onde pulsos de sons são emitidos por um aparelho, que depois capta o seu eco. Este mecanismo pode ser usado para estimar a distancia e localização de um objeto. Na figura 1, podem ver um exemplo de sonar de uma embarcação. Como esta tecnologia é bastante avançada, existem vários tipos de sonares que os humanos podem fazer. Sonares da marinha, por exemplo, podem sem usados para localizar submarinos e podem ser ouvidos até aos 1000km de distancia, isto significa que estes sons são bastante altos, e podem causar danos ao nível da audição para os humanos (Cummings, 2008).
O que é um bio sonar
Bio-sonar, usado pelos mamíferos marinhos, como baleias e golfinhos, funciona basicamente da mesma forma que um sonar ativo criado pelo Homem. Baleias e golfinhos emitem chamamentos e ficam à espera de ouvir o eco dos sons que fazem ricochete quando embatem em objetos. A diferença é que os mamíferos marinhos usam este mecanismo para comunicarem, navegar e procurar e caçar presas, o que significa que estes animais estão dependentes do som para sobreviver (Schevill & McBride 1956).
Cachalotes (Physister macrocephalus), por exemplo, que são baleias de dentes, usam ecolocalização para localizar as suas presas e fazerem uma estimativa mais precisa da distancia a que se encontram. Eles têm o bio-sonar mais poderoso do reino animal! Particularmente quando mergulham para grandes profundidades, abaixo da zona fótica onde se encontram as suas área preferidas para caçar (Isojunno & Miller, 2018), por isso eles dependem da ecolocalização para encontrar as suas presas já que não há luz a grandes profundidades.
Efeitos do sonar activo em mamíferos marinhos
A audição é muito importante para a sobrevivência de mamíferos marinhos, sendo assim, o som que vem de outros lugares pode interferir com o seu comportamento. Eles podem ficam desorientados e completamente traumatizados, podendo ser levados para longe de áreas importantes para a reprodução e alimentação (Cummings, 2008). Adicionalmente, o som que não sai naturalmente do ecossistema pode confundi-los ou impedir que estes consigam comunicar entre si. Este fenómeno é chamado de “mascaramento auditivo” e “ocorre quando ruido interfere com capacidade de um animal perceber (detectar, interpretar, e ou discriminar) um som” (DOSITS, 2017). Este tipo de efeitos parecem ser menores, no entanto estas alterações no comportamento podem stressar os mamíferos marinhos (Mountain, 2012) e afetar também a sua capacidade de reproduzir e evitar predadores, porque estão demasiado ocupados a tentar evitar o som e gastam a sua reserva de energias a evitar estes sons (Doksæter, 2016).
Mas há também outros efeitos fatais que os sonares feitos pelo Homem têm em mamíferos marinhos. Também o mergulho pode ser afetado. Baleias de bico (Ziphiidae), por exemplo, conseguem mergulhar até grandes profundidades chegando aos 2992 metros (Tyack et al., 2006). Quando os seus mergulhos são interrompidos por sons altos, estes podem ser forçados a vir à superfícies demasiado rápido, o que pode causar lesões que podem ser fatais (Cummings, 2008). Consequentemente, eles são frequentemente afetados pela doença de descompressão (ou sintomas dessa doença), o que também pode ser designado de doença dos mergulhadores causado pelas bolhas de gás que entram nos vasos sanguíneos ou qualquer outro órgão sob pressão, por exemplo: quando sobem rapidamente de grandes profundidades (com altas pressões) para aguas mais rasas (onde a pressão é mais baixa)
Por vezes, baleias e golfinhos são encontrados arrojados nas praias, vivos ou mortos. Embora as razoes exatas para estes acontecimentos não sejam completamente conhecidas, vários eventos destes têm sido associados a sonares da marinha. Isto pode ser explicado pela intensidade do som dos sonares feitos pelo Homem. As baleias ou golfinhos podem estar demasiado perto do sonar, que emite um som tão alto que causa danos auditivos temporários ou permanentes. Esta perda auditiva pode stressa-los e desorienta-los, forçando-os a ficar arrojados na costa. Nas ilhas Canárias, por exemplo, ocorreram seis eventos de arrojamentos associados a sonares da marinha (Faerber &a; Baird, 2010). Depois de um arrojamento, uma necropsia pode mostrar os danos nos canais auditivos, uma prova de que houve perda de audição.
Para sumarizar, o uso de sonar para encontrar mamíferos marinhos pode em teoria funcionar para encontrar os animais, mas aparenta fazer mais mal do que bem. Quão mais longe queremos procurar os animais, mais alto tem de ser o ruido para os detetar e mais danos serão causados no comportamento e sobrevivência dos animais. Por essa razão usamos vigias, um método não invasivo e que não perturba os animais.
Se estiver interessado em aprender mais sobre este tópico, pode ver os seguintes links: SONIC SEA é um documentário que explica em detalhe quais são os efeitos do som a nível mundial nos mamíferos marinhos.
Fontes
Cummings, J. 2008. AEI FactCheck Navy/NRDC Sonar Debate. Accessed online in February, 2019. http://www.acousticecology.org/srSonarFactCheck.html
Doksæter, L. (2016). Behavioural effects of naval sonars on fish and cetaceans. University of Bergen.
DOSITS, (2017). Discovery of sounds in the sea. Accessed online in February, 2019. https://dosits.org/
Faerber, M.M., Baird, R.W., (2010). Beaked whale strandings in relation to military exercises: a comparison between the Canary and Hawaiian Islands. Marine Mammal Science 26(3):602-613.
Isojunno, S. & Miller, PJ.O. “Movement and Biosonar Behavior During Prey Encounters Indicate That Male Sperm Whales Switch Foraging Strategy With Depth”. Front. Ecol. Evol., (11): 28.
Mooney, A. (2016). Deafening Silence: The Impact of Naval Sonar Activity on Cetaceans.
Mountain, M., 2012. “Navy sonar will impact more sea mammals”. Earth in transition. https://www.earthintransition.org/2012/05/navy-sonar-will-impact-more-sea-mammals/
Schevill, W.E.; McBride, A.F. (1956). “Evidence for echolocation by cetaceans”. Deep-Sea Research.3(2): 153–154
Tyack, P.L., Mark Johnson, M., Soto, N.A., Sturlese, A., Madsen, P.T. (2006). “Extreme diving of beaked whales”. The Journal of Experimental Biology. 8(209): 4238-4253.