Melhorar a nossa investigação sobre cachalotes

Fotografar cachalotes Futurismo Whale Watching Azores

Este ano começámos a usar mais equipamento para coletar dados sobre cachalotes. Cachalotes podem ser vistos aqui nos Açores durante todo o ano, por isso, porque não recolher dados sobre eles quando estamos no mar?

Foto ID

Desde 2010, a Futurismo passou a usar a técnica de foto-ID em cachalotes. Foto ID é feito através de fotos tiradas à barbatana caudal quando os cachalotes mergulham. Preferencialmente, a foto tem de ser tirada de trás quando a barbatana está no ar (ver figura 1 abaixo). Uma das biólogas que trabalhou connosco durante 9 anos até ao Verão passado, Miranda Van Der Linde, fez uso deste método e publicou um artigo onde identificava indivíduos de cachalotes. Ela usou fotos das barbatanas caudais mas também das dorsais para identificar os cachalotes, e conseguiu identificar diferentes unidades sociais!! Pode encontrar um pequeno sumário do seu artigo no nosso blog.

Fotografia de uma cauda de cachalote utilizada para foto identificação
Figura 1. Mergulho de um cachalote utilizado para foto identificação. Foto: Rafael Martins

Acústica

Os cachalotes são mergulhadores que passam grande parte do tempo debaixo de água, normalmente entre 70 a 90% da sua vida nos Açores (Oliveira et al., 2014). Eles podem mergulhar até duas horas duma vez só, e por vezes os nosso vigias têm dificuldade em encontra-los por isso mesmo. Como os cachalotes emitem sons bastante altos quando mergulham, em busca de lulas, é possível ouvi-los com a ajuda de um hidrofone a algumas milhas de distancia. Este ano, usámos frequentemente o hidrofone direcional com o objetivo de encontrar cachalotes ouvindo-os debaixo de água! (ver figura 2 e 3 abaixo).

Quando encontrávamos cachalotes eles estavam, geralmente, ainda em modo de alimentação. Isto significa que eles passam 8-10 minutos à superfície antes de mergulhar à procura de alimento outra vez, e é ai que eles começam a fazer cliques. Os cliques é o que nos interessa!

De acordo com a forma como a observação de cetáceos é feita aqui nos Açores, a aproximação aos cachalotes é sempre feita por trás, o que torna mais fácil a gravação dos indivíduos.

Figura 4. Fadia Al Abbar a gravar um cachalote depois de este ter mergulhado. Foto: Laura González

Quando os cachalotes mergulham nós usamos o hidrofone para gravar os sons (ver o cabo na água na figura 4). O hidrofone para recolher dados acústicos é um pouco diferente do hidrofone direcional na procura de cachalotes, como foi descrito na secção anterior. A diferença ente os dois hidrofones é explicada no nosso blog anterior. Fadia Al Abbar preparou uma proposta de PhD sobre o comportamento acústico dos cachalotes e estava muito interessada nas gravações após o mergulho dos cachalotes. Com um conjunto de hidrofone da Universidade de Wageningen, um gravador, 2 GPS’s e um extensor de lentes doado por uma bolsa da IDEA WILD, foi possível recolher dados acústicos, foto ID do individuo gravado e a sua localização. Conseguimos gravar cliques dos animais quando estes se encontravam à procura de alimento e por vezes algumas codas! Codas são sequencias de cliques que os cachalotes emitem para socializar com outros.

Aqui está um exemplo de uma gravação de codas:

No entanto, haviam frequentemente muitos cachalotes debaixo de água, o que tornou difícil saber que individuo estava a emitir os cliques! Normalmente víamos apenas um individuo à superfície mas quando ouvíamos o hidrofone havia uma enorme orquestra a fazer cliques debaixo de agua. Que se parecia com isto:

Depois, nós também gravamos o nosso famoso cachalote macho chamado Mr. Liable. Cachalotes macho fazem cliques que normalmente soam diferente das fêmeas. Como podem ver, este cachalote estava sozinho e por isso era o único a fazer cliques. Os seus cliques soavam assim:

Aprende mais sobre os diferentes tipos de clique que os cachalotes emitem, e porquê.

Comportamentos à superfície

Em conjunto com os dados acústicos, uma estudante de mestrado da Universidade do Algarve, Ramona Negulesco, recolheu dados sobre o comportamento à superfície dos cachalotes, a partir dos nossos catamarans (ver figura 5 e 6). Não foi tarefa fácil! Vários métodos foram testados; usar um clicker e uma folha de comportamento para recolher dados. Eventualmente, o melhor método foi usar um gravador de voz, então esta técnica foi usada durante toda a recolha de dados.

A Ramona gravou reações comportamentais dos cachalotes aos barcos. Muitas das vezes essas reações não eram claras. Observações preliminares mostram que quando havia um grupo de cachalotes a subir à superfície, a maior parte deles mergulhava ao mesmo tempo. Por isso, muitas vezes nós observávamos os cachalotes a mergulhar quando o barco se aproximava. No entanto, é difícil provar se esta reação era em relação ao barco e mergulhavam antes de tempo, ou se acontecia porque os cachalotes estavam prontos para mergulhar outra vez.
A frequência de bufos foi também gravada para perceber se variava consoante as condições. A Ramona encontra-se neste momento a escrever o seu relatório, e a Laura González, a sua supervisora e coordenadora dos biólogos, está a examiná-lo, portanto veremos que informação nos trazem os resultados! 

Escrito por Fadia Al Abbar

Bibliografia

Oliveira, Cláudia Inês Botelho de. “Behavioural ecology of the sperm whale (Physeter macrocephalus in the North Atlantic Ocean”. 2014. VI, 123 p.. (Tese de Doutoramento em Ciências do Mar, especialidade em Ecologia Marinha). Horta: Universidade dos Açores, 2014.

Recorders and GPS’s used for the research were donated by IDEA WILD and a hydrophone set was used through the Wageningen Marine Research, the Netherlands.

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