O primeiro mês do verão já passou e é o mês das mudanças na biodiversidade à volta da ilha de São Miguel. Enquanto a primavera é a época das grandes baleias migratórias, o verão é a época dos grandes grupos de golfinhos, e essas diferenças podem ser observadas nas estatísticas mensais de junho. Como esperado, o Top 5 de espécies observadas em junho de 2022 é composto pelas nossas 4 espécies residentes, mas o 4º lugar na verdade é ocupado pelas nossas espécies sazonais mais avistadas do verão.
Os golfinhos comuns são as nossas espécies mais avistadas desde sempre e este mês não foi exceção. Cerca de 80% das vezes que saímos para o mar no mês passado, conseguimos ver as nossas espécies residentes mais famosas e coloridas. Os golfinhos comuns são conhecidos por serem amplamente distribuídos no mundo, daí o nome, e o seu comportamento curioso em relação aos barcos nunca dececiona.
A nossa segunda espécie mais avistada no mês passado foi o cachalote, a nossa única espécie residente de baleia que é considerada o símbolo dos Açores. Os cachalotes foram vistos aproximadamente 75% e na maioria das vezes em áreas com cerca de 1000 metros de profundidade. A preferência por esta profundidade justifica-se pela sua dieta, uma vez que se alimentam de diferentes espécies de lulas que habitam as profundezas dos nossos oceanos em todo o mundo.
Os golfinhos roazes e os golfinhos de Risso, as outras duas espécies residentes nos Açores, ocupam o 3º e o 5º lugares, respetivamente. Embora às vezes vistas juntas, essas duas espécies não poderiam comportar-se de forma mais diferente uma da outra. Enquanto os golfinhos roazes são muito curiosos, brincalhões e às vezes até acrobáticos, os golfinhos de Risso tendem a ser um pouco mais tímidos, misteriosos e mantêm a distância dos barcos. Com as águas a começarem a ficar mais quentes, isto significa também que algumas novas espécies estão a chegar aos Açores.
O golfinho pintado do Atlântico é uma espécie única do Oceano Atlântico que chega ao arquipélago no verão, vindo da costa ocidental de África. Esta espécie fez 50% dos nossos avistamentos no último mês e se tudo correr normalmente os golfinhos pintados vão ficar no pódio das espécies mais avistadas até ao final do verão. Este golfinho é também a espécie preferida de muitos turistas, e biólogos também, devido ao seu comportamento ativo e curioso em relação ao barco.
As baleias de bico e golfinhos riscados foram vistos em 10% dos passeios, cada. Os primeiros (baleias de bico) são conhecidos por serem o grupo mais enigmático dos cetáceos, com cerca de 20 espécies em todo o mundo, a maioria delas pouco se sabe, algumas nunca foram vistas vivas e outras ainda estão por descobrir. Aqui nos Açores já foram identificadas algumas baleias de bico, pelo que poder ter uma pequena visão da vida destes misteriosos animais é sempre um privilégio.
Os golfinhos riscados são uma pequena espécie de golfinho que é avistada em mar alto e a questão de estarem nos Açores durante todo o ano continua a ser debatida.
Duas espécies de baleias de barbas ainda foram vistas em junho. Embora por vezes tenhamos mais avistamentos de baleias migratórias no pico da primavera, também podemos ter alguns avistamentos em outras épocas do ano, especialmente em junho que é considerado um mês de transição entre as espécies de primavera e as espécies de verão. A baleia de bossa foi vista duas vezes e a baleia comum apenas uma vez, ambas no início do mês.
Falsas orcas também foram vistas apenas uma vez no mês passado, esta é uma espécie que vemos ocasionalmente no verão aqui nos Açores. Como não é tão frequente vê-las por aqui no arquipélago é sempre bom passar algum tempo na companhia destes animais.
Não só vimos uma alta diversidade de espécies de cetáceos em junho, mas a maioria dos grupos de golfinhos que vimos eram bastante grandes e cheios de bebés. Os meses de verão também significam que é o tempo para os bebés, porque a temperatura das águas está ficar mais quente, e a probabilidade de sobrevivência dos pequenos golfinhos é muito maior do que em águas mais frias. Os grupos de cachalotes também foram vistos por vezes com crias, o que nos deixa extremamente felizes por saber que as populações que temos à volta da Ilha de São Miguel continuam a crescer fortemente.
Vamos ver o que julho nos traz!