Caravela Portuguesa (Physalia physalis) – tudo o que precisa de saber

Caravela portuguesa encontrada nos Açores

Todos os anos, com a chegada da primavera, os Açores assistem ao aparecimento de muitas caravelas portuguesas (Physalia physalis). Apesar de ser a espécie mais venenosa que poderá encontrar no arquipélago, não se preocupe, nas nossas viagens de observação de cetáceos estará em total segurança. Por vezes as pessoas confundem as caravelas portuguesas com alforrecas (à qual chamamos “água viva” nos Açores), mas a única coisa que têm em comum é o facto de possuir longos tentáculos. Vejamos então quais são as principais caraterísticas da caravela.

O que caracteriza esta espécie?

Ao contrário do que muitos pensam a caravela não é um único organismo, é sim composta por um conjunto de 4 tipos de organismos que trabalham em conjunto para garantir a sua sobrevivência. A estes organismos damos o nome de pólipos ou zooides. A caravela portuguesa (Physalia physalis) pode ser classificada como uma colónia de organismos que, apesar de diferentes, partilham o mesmo ADN entre si.

Esta espécie é invertebrada e carnívora. Cada um destes quatro tipos de pólipos são únicos nas caravelas portuguesas e cada um possui funções específicas. Dividem-se da seguinte forma:

1. Pneumatóforo (vela- navegação)

As caravelas, ao contrário das alforrecas, não conseguem nadar. Por isto um dos pólipos é responsável por se encher com gás, formando uma espécie de vesícula à superfície que funciona como uma vela. Esta vesícula pode atingir 30cm de comprimento e 15cm de altura.

Uma vez que a caravela não nada e apenas é transportada pelo vento e correntes, podem ser muitas vezes encontradas junto à costa (praias e zonas de calhau). Por isso tenha cuidado… quando vir algo na praia com coloração rosa, violeta e um azul intenso com um brilho espelhado ou um aspeto gelatinoso, não lhe toque!

3. Dactilozoóides (captura das presas)

As caravelas navegam com a corrente e dependem do poder de atração para se poderem alimentar. Elas apanham pequenos peixes e organismos que se aproximam dos seus tentáculos e é através do veneno nestes tentáculos que conseguem imobilizar e matar as suas presas. Estes tentáculos são de tonalidade azul escura, enrolados e podem expandir-se e atingir até 50 metros de comprimento!

3. Gastrozoóides (digestão)

O sistema digestivo da caravela é transparente e consegue-se observar este pólipo em ação a digerir as suas refeições, sendo os nutrientes distribuídos depois com os restantes pólipos.

4. Gonozoóides (reprodução)

Cada organismo individual da caravela, isto é, cada pólipo, é unissexual munido por um gonozoide (órgão responsável pela reprodução) podendo conter ovário ou testículos. E sabia que todos os organismo da mesma caravela são do mesmo sexo? É incrível a organização e complexidade de uma caravela portuguesa. Quando prontos para a reprodução os óvulos/esperma são libertados par ao meio ambiente. Esta é uma tentativa de fertilizar os ovos e gerar pequenas larvas dos diferentes pólipos que formam uma caravela.

Porque se chama caravela portuguesa?

O pneumatóforo (organismo responsável pela navegação) assemelha-se a à vela existente nos navios de guerra portugueses do séc. XV e XVI: a caravela. Como esta espécie é muito comum em Portugal os britânicos batizaram-na de Portuguese man o’ war (caravela), tal como o navio. Aliás, em várias línguas esta espécie é conhecida pela combinação da palavra Portugal e o nome do navio caravela (e em outras línguas, Carabela, Caravella, Galère, Galeere, Oorlogschip, Orlogsmand, Örlogsman, Gálya).

Caravela-Portuguesa-navio

O que deve fazer se for picado por uma caravela?

No caso de ser picado por uma caravela portuguesa é recomendado lavar a ferida com água salgada, colocar vinagre ou urina na zona afetada.

O propósito do vinagre é ajudar a estancar a descarga de veneno para o corpo da pessoa afetada. Não se deve em circunstância alguma colocar álcool, água doce, nem pressionar com uma compressa a zona afetada, pois isto acelera o processo da passagem do veneno para a corrente sanguínea.

No caso de a pessoa picada possuir alergias é necessário cuidado redobrado e com atenção a qualquer sinal de reação alérgica. Caso não passe a dor ou se veja o mínimo sinal de reação alérgica, dirija-se ao posto de saúde mais próximo. Apesar das caravelas possuírem um veneno muito poderoso e doloroso, é raro este ser letal para os humanos.

A picada de caravela pode provocar queimaduras até terceiro grau tal como alguns dos seguintes sintomas:

  • Dor intensa e instantânea;
  • Sintomas gastrointestinais (dor abdominal, náuseas e vómitos);
  • Espasmos musculares;
  • Dor de cabeça;
  • Sonolência;
  • Desmaios;
  • Perturbações cardiorrespiratórias.

As caravelas portuguesas são perigosas e mesmo depois de mortas podem picar e transmitir o seu veneno. É por isto necessário respeitar os alertas nas zonas balneares e ter atenção redobrada quando for época de caravelas, evitando assim ser picado por uma. Aqui está uma experiência que não recomendamos a ninguém! Quando estiver a nadar tenha sempre cuidado, pois por vezes é possível confundir uma caravela com um saco a flutuar.

Algumas espécies veem a caravela portuguesa como alimento. Uma dessas espécies é frequentemente observada nos Açores: a tartaruga comum que por ter a pele rija torna-se imune à toxina presente nos tentáculos da caravela portuguesa. Outra espécie que também se alimenta de caravelas é o peixe-lua.

Onde se pode encontrar a caravela portuguesa? 

É comum encontrar caravelas portuguesas em águas temperadas subtropicais e tropicais. No entanto, como esta espécie segue as correntes, já foi encontrada no Oceano Pacífico, Oceano Índico, Mar das Caraíbas, Mar dos Sargaços, para além do Oceano Atlântico.

Esteja sempre alerta, principalmente na primavera e no início do verão quando estiver no oceano.

Caravela portuguesa nos Açores

Escrito por Carine Zimmermann

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